quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Por que assim, tão fragmentada?

Fragmentos do meu eu escapam do meu corpo sem o meu consentimento. Não sei denominá-los, mas eles existem e estão assim, a pular de mim para o outro, de mim para a tela, de mim para o caderno, de mim para o universo todo. Quase ninguém os vê: apenas os clarividentes são capazes de manter algum contato com eles. Ops. Cuidado aí. Você pode ser atingido por um fragmento a qualquer momento. Eu não tenho um eu. Um centro assim, estável. Uma identidade, assim, com contornos bem definidos. Quem tem, hoje em dia? [Ufa, sou normal].

Ufa, sou normal. Mas acho que nunca conseguirei me acostumar a essa normalidade. Todos compartilhamos dela, certo? Afinal, quem hoje é uma página intacta? Todas as pessoas que eu conheço são assim: recortes e colagens. O andar da modelo x, a inteligência da professora y, a sensibilidade da escritora c, o sexo do filme s, a valentia do protagonista h.

Os fragmentos alheios também pulam em mim, sem minha permissão. Depois dessa permissividade toda, quem é capaz de dizer não aos fragmentos? Eles vêm de todas as partes do mundo, canalizados, transformados em energia: meus olhos captam e, por simbiose, sou alimentada a cada segundo.

A humanidade é um bando de revistas do mês passado. Picotadas. Ficou difícil de ler o mundo assim.

3 comentários:

  1. "A humanidade é um bando de revistas do mês passado. Picotadas. Ficou difícil de ler o mundo assim."

    foda!

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  2. Olá
    Esta lendo seus post são show
    Me add .. Beijos fica com Deus !!

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